Usamos metáforas desportivas para todas as áreas da vida, e os negócios não são nenhuma exceção. Nenhum desporto se compara à gestão de uma empresa como a vela.
Vamos abordar algumas áreas-chave nas quais podemos comparar a sua empresa com a vela.
A vela depende de muitas habilidades e fatores que não existem noutros desportos. Na vela, geralmente tem mais de um adversário, e o trabalho em equipa é fundamental. Não só a regata envolve táticas situacionais, como também precisa ter uma estratégia de prazo mais longa para a regata, e essa estratégia pode mudar ao longo de uma série de regatas. Além da afinação do seu barco e da forma como o leva, terá de ter em conta também fatores ambientais como uma variação da direcção de vento ou corrente inesperado pode mudar completamente o jogo. E enquanto ainda os barcos mais lentos ocasionalmente podem vencer uma regata com um golpe de sorte, você tem que ser consistente em todas estas áreas para sair uma série de regatas nos lugares cimeiros.
Não conheço nenhum outro desporto que forneça uma amplitude semelhante de factores que contribuem para o sucesso. E quanto mais aperfeiçoa estes fatores, mais se pode comparar com o funcionamento de um negócio. Vamos focar-nos em algumas destas áreas chave:
A condução e manobra do barco tem tudo a ver com trabalho de equipa, trabalho esse fundamental em vários desportos, tal como nas empresas.
Cada pessoa a bordo tem uma função específica. Uma conduz o barco, outra afina as velas, factor prepoderante para a velocidade do barco, outra ainda iça e arreia as velas no momento certo, enquanto que outros terão que dar informações do que está a acontecer à volta do barco, quer dos opositores, quer das próprias condições de vento e mar. Alguns dos erros mais frequentes a bordo acontecem quando alguém tenta fazer o trabalho do outro.
O treino ajuda, tal como a comunicação. Se todos souberem qual a sua função a bordo, o barco navegará mais rápido e mais estável. Se alguém estiver confuso acerca do que fazer e quando fazer, instála-se a confusão e o barco irá perder velocidade.
A grande maioria das regatas começa contra o vento. O primeiro destino é uma bóia chamada bóia de barlavento ou "bóia da bolina". Na vela, não se consegue navegar numa linha recta para a bóia da bolina, portanto contra o vento. Terá de navegar em ângulos ou em "zigue-zagues".
As empresas frequentemente também tem de fazer ligeiros zigue-zagues no seu rumo — às vezes o melhor caminho não é sempre a direito. Nesses zigue-zagues as empresas necessitam de estar focadas no seu rumo, de ter equipas coordenadas para que rápidamente e de forma suave se adaptarem e não darem aos seus concorrentes qualquer vantagem.
Depois de rondar a bóia da bolina, as regatas mudam completamente. Agora navega-se à popa, a favor do vento. As velas mudam, a táctica muda, como também muda o ângulo do seu barco em relação ao vento. Agora navega em direção à bóia de sotavento ou "bóia da popa". Quando uma empresa encontra os seus primeiros clientes estáveis, ronda o primeiro obstáculo. Deixa de só ter custos e começa a ter as primeiras receitas, e um conjunto de novos desafios começam: como crescer sustentadamente, como manter os seus clientes satisfeitos enquanto tenta alcançar novos clientes, como continuar a crescer sem que se esgote os recursos.
Nas regatas, a táctica aplica-se quando dois ou mais barcos se encontram em situações de proximidade. Pode aprender a usar a táctica para situações específicas da regata.
Os barcos quando navegam com o vento vindo de estibordo (direita) diz-se que estão "Amurados a Estibordo" e tem direito a rumo (prioridade) em relação aos barcos que navegam com amuras opostas, ou seja, "Amurados a Bombordo". Então a táctica ajuda-o a decidir quando está amurado a bombordo e se aproxima de um outro barco com amuras opostas (amurado a estibordo), se deverá se desviar do outro passando pela popa, ou se deverá virar de bordo ficando ambos amurados a estibordo. Também pode recorrer à táctica quando vários barcos se encontram na rondagem de uma bóia. Estas tácticas são muito influênciadas pelas "Regrdas de Regata" ou por regras específicas que se aplicam às regatas.
Nas empresas, a táctica é usada para ajudar a se dar a conhecer aos seus potênciais clientes, para agilizar as relações com clientes insatisfeitos, ou para formalizar parcerias com outras empresas. As tácticas empresariais ajudam-no a navegar nos mares empresariais, e apesar de não se focar na vitória à custa de outros, uma táctica adequada garante o sucesso.
O primeiro barco a rondar a bóia da bolina nem sempre significa a vitória na regata. O campo de regata é um de campo de jogo especial. É estreito ao início e nas bóias, e largo no meio. Que lado do campo de regata deverá colocar o seu barco em cada perna da regata? Por vezes quer ir pela esquerda, outras pela direita, outras ainda pelo meio do percurso. Depende das condições de vento, corrente, e dos que os seus adversários estão a fazer. Será que deverá navegar com o resto da frota, ou navegar na direcção oposta? Navegar com a frota é muito menos arriscada—não deverá alterar muito a sua posição na frota. Navegar no sentido oposto é muito mais arriscado—depende muito para que lado o vento vai saltar, poderá ganhar várias posições, ou perder bastante.
Nas empresas, se não tem estratégia, tem de reagir a tudo o que surgir. Se tiver uma estratégia definida, poderá decidir melhor que negócios irá fazer ou recusar. Empresas de sucesso sabem que direcção lhes levarão nos negócios onde estão envolvidos e recusar negócios que podem levá-los em direcções opostas à sua estratégia. A estratégia também o ajuda a lidar com a conjuntura, antecipando as mudanças e criando planos de contingência para quando essas mudanças acontecerem.
O estado de conservação do seu barco e equipamento é muito importante. Se o casco não está limpo, cria mais atrito na água, tornando-o mais lento. Se as velhas estão velhas e deformadas, não conseguem produzir a forma desejada, tornando o seu barco também mais lento. Se o seu mastro não tem a afinação correcta, perde também eficiência, que por sua vez se traduz também numa perca de velocidade.
Velejadores experientes conseguem ultrapassar mau equipamento ou até mesmo velejadores inexperientes com muito melhor equipamento. Mas se todos os outros factores forem iguais, melhor equipamento proporciona uma ligeira vantagem, enquanto o mau equipamento pode mantê-lo fora da corrida.
Bom equipamento custa dinheiro. Os velejadores mais ricos têm uma vantagem inegável. Da mesma forma, as empresas bem financiadas têm uma vantagem sobre aqueles que começam com um orçamento mais apertado. No entanto, você não precisa do melhor equipamento para vencer a regata, só precisa ser bom o suficiente para que não o faça perder.
Muitos velejadores iniciam-se na modalidade a perder demasiado tempo a tentar obter os melhores equipamentos, quando esse tempo deveria ser dedicado a praticar a manobra e condução do barco, aprendendo tácticas eficazes, ou trabalhando na estratégia. Mas para chegar ao topo da classificação, precisa investir tempo e energia no seu equipamento.
Quando está vento forte, precisa de equipamento forte e fiável, adequado às condições mais exigentes. Mas a diferença entre o equipamento forte e fiável não faz muita diferença na sua velocidade. Por outro lado, quando as condições são de vento fraco, precisa de ser leve e ligeiro porque todas as vantagens possíveis são necessárias ou pode perder terreno para os outros barcos.
Nas empresas, quando as velas estão cheias (e vendas ao rubro) mercado em alta, não importa se o seu sistema de venda é o mais avançado ou minucioso, desde que cumpram o objectivo. Quando o mercado quebra e as vendas são difíceis de concretizar, é necessário conter custos com sistemas de baixo custo ou de custos adequados às condições de mercado, ou poderá não sobreviver.
Bons marinheiros e boas empresas são definidas pela forma como lidam com as calmarias, e como eficientes as suas operações são. Um bom equipamento pode fazer a diferença, e ajudar a suavizar as suas operações.
Ao contrário dos outros factores, as condições ambientais são completamente fora do seu controlo. Durante uma regata, não pode controlar a direcção do vento, que alterações vai ter e para que lado, ou qual a direcção da corrente. Mas tem que considerar estes fatores - os barcos que melhor se anteciparem às alterações de condições são aqueles que terão vantagem.
Se ainda não prestou muita atenção ao vento, pode não perceber o quanto varia ao longo de minutos e horas. Em muitos lugares do mundo, o vento oscila, mudando de direcção, e de intensidade. Um bom velejador, vira de bordo nos saltos de vento desfavoráveis, e mantêm-se no mesmo bordo nos saltos de vento favoráveis. Esses saltos de vento são chamados de "positivos" ou "negativos" - um salto de vento positivo aproxima-o da direcção que pretende enquanto que um salto de vento negativo afasta-o, tornando-se mais vantajoso virar de bordo. Velejadores que conhecem as condições locais podem ter ainda outra vantagem, sabendo quando atingem uma determinada zona da costa sabendo antecipadamente o efeito que o vento terá com a costa. Estes são velejadores que, tirando partido do conhecimento local, terminam quase sempre na frente.
Que melhor metáfora para o negócio? Aqueles que têm navegado nas águas empresariais podem intuitivamente perceber quando as condições estão prestes a mudar, podem antecipar as mudanças e planear de forma eficaz. Os novos empresários estão ainda muito ocupados a tentar conduzir e manobrar o seu barco de forma eficiente para reconhecer essas mudanças e mantêm-se no rumo errado quando as condições se viraram contra eles, sem que eles se apercebam.
Na maioria das vezes, um campeonato não é constituido por uma regata. Os campeonatos são compostos por uma série de regatas. É possível o vencedor de um campeonato não vencer nenhuma regata - o resultado acumula no conjunto de várias regatas da série, portanto ter um desempenho consistente é mais importante que conseguir ganhar uma regata. Até ao final do campeonato, um velejador inteligente identifica os seus mais directos adversários e descobre quem tem de vencer para melhorar a sua classificação.
Nas empresas, ter uma estratégia a prazo pode ajudá-lo a estar na frente, mesmo se não concretizar um negócio em particular. Pense em movimentos empresariais que o ajudam a se preparar para o sucesso no futuro, que tem em consideração a sua concorrência, e que não o apanham em contratempos individuais - haverá mais negócios que virão.
As comparações entre regatas e as empresas continuam. Há diferentes classes de barcos, tal como diferentes classes de empresas. Há diferentes tipos de regatas, e regras diferentes podem alterar completamente quem tem mais vantagens. Certas condições favorecem certo tipo de empresas. Mas todas as empresas e todos o tipo de barco de regatas, precisam de melhorar o trabalho de equipa, táctica, estratégia e a forma como navegam em diferentes condições ambientais para estar sempre na vanguarda. E investir em melhor equipamento pode fazer a diferença, especialmente em situações difíceis.